Os primeiros dias de 2017 não deixam dúvidas. Será um ano inesquecível. Da gestão de Donald Trump à Lava Jato, dos debates nas redes sociais à ascendência dos youtubers ao patamar de celebridades, diversos fatores estão gerando fortes impactos em nossas vidas. Como estes e outros movimentos se desenvolverão nos próximos meses? Qual seu impacto na comunicação? Cruzamos diversos estudos das mais diferentes áreas, do marketing ao comportamento, para identificar sete macro tendências que modelarão o setor:
A ERA DO CONSUMIDOR – cada vez mais empoderado, o verdadeiro CEO das marcas globais vai ficar ainda mais irascível. Preso em suas ‘câmeras de eco’ nas mídias sociais, em que ouve apenas quem corrobora seus pontos de vista, vai se dedicar muito mais ao ativismo negativo, criticando posturas com as quais discorda, do que defendendo suas crenças – mesmo com o esforço das gigantes da tecnologia para banir os trolls. Resultado disso, as marcas, assim como governos e até a mídia, estarão na berlinda. Já a demanda do consumidor por agilidade seguirá acelerando da mesma forma que o movimento de disruptura (falamos sobre isso no post após a visita ao Vale do Silício), o consumidor seguirá demandando agilidade nos contatos. É pra ontem.
A GUERRA PELA ATENÇÃO – num mundo cada vez mais digital – em 2020, um humano médio interagirá mais com chatbots que com seu cônjuge – um recurso limitado será cada vez mais disputado pelas marcas: a atenção do público-alvo. O desafio ficará ainda maior pelo crescimento da busca de privacidade, ampliando o bloqueio de mensagens não desejadas. Ações que já estão em curso, como o estudo de perfis nas mídias sociais por bancos para aprovar ou não um pedido de empréstimo, aumentarão o sentimento de se preservar publicamente. Em contrapartida, a concorrência crescerá, pois cada vez mais empresas entenderão que o nome do jogo é geração de leads (contatos de clientes potenciais) no universo digital. Personalização (de verdade) é um dos desafios que se impõe e vai alimentar o uso de chatbots.
SIGNATURE EXPERIENCES – relevância e autenticidade aumentarão seu cacife nas buscas por romper os bloqueios e atingir o consumidor. O foco na experiência e não no produto, vai aumentar. Assim como as barreiras entre físico e virtual serão borradas, em boa parte suportadas por novas aplicações de AR (realidade aumentada) e VR (realidade virtual, ambas nas siglas em inglês – falamos mais disto neste post). Transmissões ao vivo nas mídias sociais se tornarão lugar comum. Mas a tecnologia é só um meio. O desafio das marcas é criar experiências únicas e que traduzam sua visão e posicionamento ao mesmo tempo em que abram espaço para que o consumidor – sempre ele, participe ativamente na construção desta história. A co-criação veio para ficar e as marcas têm que aprender a conviver com um controle cada vez menor.
INFLUENCIADORES NO TOPO – um dos principais meios para chegar com menos filtros ao público-alvo, os influenciadores serão cada vez mais mimados e paparicados pelas marcas. Hoje lugar comum para o mercado B2C, os influenciadores avançarão na comunicação das empresas B2B. Mas aqui, também, os desafios se sofisticam. Com cada vez mais concorrência – o sucesso dos youtubers, por exemplo, vem gerando uma avalanche de novos produtores independentes de vídeos – e o público cada vez mais crítico, os influenciadores terão que pensar muitas vezes antes de aceitarem propostas financeiras tentadoras. Se forem vistos como ‘vendidos’, perdem a credibilidade e, com ela, a audiência. Mais uma vez, as marcas têm que aceitar terem suas mensagens revistas e transformadas ou não surfarão esta onda. Influenciadores de nicho – com audiência limitada, mas temas específicos, crescerão em relevância. Assim como os que conseguem falar com os consumidores multiculturais (aqueles poucos, mas muito relevantes que conseguem sair de seus casulos e aproveitar a liberdade de fronteiras, ideias e conceitos que a internet oferece).
PROPÓSITO SEGUE FIRME – inclusive como contraponto à polarização política. Enquanto a Starbucks reage ao decreto de Trump que fecha as fronteiras dos EUA afirmando que contratará refugiados, o movimento chamado de Civic Silicom Valey realça as ações dos bilionários da tecnologia dos EUA visando transformar o mundo. Como toda ação provoca uma reação, a atenção que a mídia tem dado a Trump e outros radicais (independente da coloração ideológica) irá reforçar tendências como a dos consumidores políticos, que compram causas, não apenas marcas. Fica cada vez mais arriscado ficar em cima do mundo.
PR AMPLIA RELEVÂNCIA – ficará cada vez mais difícil separar o joio do trigo. Num efeito negativo do crescimento da tecnologia, em 2020 metade das corporações tomarão decisões baseadas em dados sem credibilidade (por conta da quantidade massiva de informações falsas e a impossibilidade de checagem de todas). Com este cenário, a busca por reputação será cada vez mais importante. Sorte nossa, que cuidamos (também) de relações públicas (PR na sigla em inglês). Agora chamado de Brand Journalism, o marketing de conteúdo baseado na apuração autêntica (daí o jornalismo) de temas que vão além da marca também seguirá em evidência.
NOSTALGIA MODERNA – sim, parece que nos livramos dos hipsters. Mas a busca por alguma segurança num passado idealizado seguirá moldando o comportamento. A contínua aceleração das mudanças (sempre ela) reflete em insegurança. A revisão dos papeis masculino e feminino também. Enquanto busca soluções para continuar tendo prazer numa alimentação com cada vez menos açúcar, gordura e carne vermelha, a Humanidade seguirá em busca de um antídoto para as incertezas do presente. Será que não foi isso que ajudou a eleger Mr. Trump?
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