Como pode um dos pilares mais importantes da comunicação interna ser o menos discutido e trabalhado dentro das empresas? Tenho um bom palpite sobre isso (e vou esperar você chegar no final deste artigo para contar), mas o fato é que a comunicação interpessoal é o primo pobre do setor. E isso é um erro absurdo.
MAS, AFINAL, O QUE É COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL?
Segundo a academia, comunicação interpessoal é a habilidade de promover a troca de informações e mensagens entre duas ou mais pessoas. Ou seja, no ambiente profissional, falar (ou escrever) e ser efetivamente compreendido por seus colegas, chefes, subordinados, clientes, fornecedores etc. Simples né? Só que não.
A pegadinha, nesta descrição, está no termo efetivamente compreendido. Aquele que se refere à diferença entre se expressar e comunicar (sinto informar, mas estas palavras não são sinônimos). Comunicação, para existir, pressupõe que quem está ouvindo ou lendo (o receptor da mensagem) efetivamente compreendeu o que foi dito ou escrito. E, como irei mostrar a seguir, isso acontece muito menos do que se acredita. Especialmente no ambiente corporativo.
ELES NÃO ESTÃO TE ENTENDENDO
O portal Carrer Adict aponta que as habilidades de comunicação interpessoal são a segunda qualidade a que os gestores dão maior importância (com 4,37 pontos numa escala de 0 a 5), depois apenas da aptidão para o trabalho em grupo. Esse fato faz todo o sentido quando você observa que 91% dos funcionários dos Estados Unidos avaliam que seus chefes são maus comunicadores, segundo pesquisa da Interact/Polis publicado pela prestigiada revista Inc.
Quer mais? De acordo com estudo da American Psychological Association, apenas 50% dos funcionários dos EUA acreditam que seus chefes estão abertos a ouvi-los. E ainda, segundo levantamento da plataforma de CI Ving, 71% dos colaboradores avalia que seus gestores não dedicam tempo suficiente para explicar planos e objetivos.
DESAFIO AUMENTA COM A PANDEMIA
E estes dados foram levantados antes da atual pandemia de Covid-19, que levou boa parte da força de trabalho mundial a atuar de casa. Se a interação que contava com a proximidade física entre os profissionais já era crítica, como será agora, com trocas de mensagens e áudios ganhando ainda mais espaço em relação ao velho e bom olho no olho?
Como? Se existe diferença? Sim, e muita. O cientista Albert Mehrabian apurou que as palavras correspondem a apenas 7% do que é comunicado numa conversa. Todo o restante da mensagem é entregue pela comunicação não verbal, sendo 38% pela inflexão e tom de voz e brutais 55% pela postura, gestos, olhar, movimentos de mãos etc. Ou seja, quando trocamos a conversa pela mensagem, estamos, de saída, reduzindo bastante nosso poder comunicacional.
E O QUE QUE EU GANHO COM ISSO?
Não é à toa que os gestores valorizam tanto a capacidade de comunicação interpessoal em suas equipes. As vantagens dos times formados (e não apenas liderados) por profissionais que conseguem transmitir e receber suas mensagens são muitas e relevantes. Aqui vão as sete principais:
1. Resolução de problemas – pelo simples fato de que, para chegar a uma boa solução, é necessário discutir os desafios. Além de ter um ambiente aberto a que todos se expressem e tenham suas ideias e visões consideradas.
2. Alinhamento com os objetivos do negócio – se os gestores não conseguem – como as pesquisas acima indicam – comunicar as metas e planos, como esperar que as equipes saibam a direção a seguir?
3. Melhor gestão de mudança – por mais efetiva que seja a comunicação interna de uma organização, as interações pessoais entre os profissionais são fundamentais para implementar novos processos.
4. Fortalecimento da cultura corporativa – é dos relacionamentos interpessoais que vem a principal força da cultura dentro de uma empresa. E, sem uma boa comunicação, estes relacionamentos dão lugar a negatividade, confusão e conflitos.
5. Redução das falhas de comunicação – diversos processos e atividades sofrem com falhas de comunicação. Uma informação mal detalhada ou um pedido de ação que não é claro geram perdas consideráveis numa organização. E, o que é mais triste, muitos profissionais não fazem ideia de que não estão sendo compreendidos.
6. Gerenciamento de conflitos – Afinal, é impossível mediar os muitos conflitos que emergem em qualquer operação sem saber ouvir (de verdade) e explicar de maneira clara seus pontos de vista.
7. Engajamento interno – Será possível se sentir parte relevante de uma equipe se você não consegue compreender ou se fazer ouvir por seus colegas e líderes?
Voltando ao início do artigo, como, com tantas vantagens, o aperfeiçoamento da comunicação interpessoal não é foco prioritário das empresas? Bom, na verdade ninguém sabe exatamente o porquê. Mas nós temos um palpite.
Como, desde o berço, temos que nos expressar para sobreviver, tendemos a acreditar que a comunicação com outros seres humanos (ou, pelo menos, os que dividem o mesmo idioma) é uma habilidade “natural” que todos dominam. O que é um engano. Uma vez mais, estamos confundindo se expressar com se comunicar. Mas este é o tema do próximo artigo desta série, quando exploraremos a diferença entre estes conceitos e os prejuízos financeiros que a falta de comunicação interpessoal gera nas empresas.
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