A capacidade de ser criativo e inovar é uma das mais valorizadas qualidades da atualidade. E poucas empresas são tão reconhecidas neste setor quanto a Pixar, que em poucos anos criou um novo panteão de heróis. Co-fundador e presidente do estúdio, Ed Catmull também liderou a reviravolta criativa dos estúdios Disney (a partir da compra da Pixar pela gigante do entretenimento) e conviveu por muitos anos com ninguém menos que Steve Jobs.
E foi a partir destas referencias que Catmull fez a palestra mais aplaudida do Inbound2017 – evento do qual participamos junto com o time do Trends4Edu, de nossos amigos da Mkt4Edu. Partindo do objetivo de como criar e manter empresas criativas, ele relatou práticas de sucesso, contou histórias e emocionou ao encerrar com uma homenagem a seu falecido companheiro de trabalho.
PROBLEMAS
Catmull parte de uma premissa simples: criatividade é a capacidade humana de buscar soluções para seus problemas. Ponto. Assim, isolar as equipes e profissionais em ambientes perfeitos, processos infalíveis e respostas para todas as questões é o caminho mais fácil para minar a criatividade. O que nos leva ao dilema: previsibilidade, segurança e recorrência (tudo o que as organizações mais presam) constroem operações absolutamente sem imaginação. Quando Catmull assumiu os estúdios Disney, por exemplo, decidiu deixar as duas estruturas totalmente separadas. Evitou assim a solução fácil e provocou os times a continuarem enfrentando seus desafio
LIDERANÇAS
Um dos segredos do sucesso da Pixar é a autonomia que o estúdio confere aos diretores. Eles são os verdadeiros líderes de cada projeto, com autonomia para criar histórias que engajem e emocionem a audiência (e não se engane, os filmes da Pixar são feitos tanto para adultos quanto para crianças). Já na Disney, por exemplo, a decisão passava pela equipe de produção, focada em números e pesquisas – levando a filmes cada vez menos inspirados e… de menor sucesso.
DESAPEGO
Para muitos, este é o mais difícil. Mas a criação de um filme, (produto, campanha, conteúdo) na visão da Pixar, é um processo marcado por inúmeras mudanças de rota e formato até atingir o ponto ideal. Usando como exemplo o roteiro do filme Up-Altas Aventuras, Catmull mostrou como quase nada do argumento inicial sobrou na versão que foi às telas. E como esta desconstrução/reconstrução exigiu que todos os envolvidos fossem abertos à críticas e buscassem novas soluções a cada desafio colocado.
OUVIR
Na Pixar, o líder de um projeto se vê obrigado a continuamente apresentar e discutir seu desenvolvimento com o restante da equipe (inclusive com quem não está envolvido no projeto). E todos são instigados a participar. É destas discussões que surgem insights, mudanças de curso e novos argumentos que tornam tão ricos os roteiros do estúdio. Com foco nos problemas, o conjunto ajuda a mágica a acontecer.
RISCO
É claro que Catmull também falou sobre a falha, o erro, novo fetiche do empreendedorismo. Segundo ele, o erro é positivo quando está no passado, quando é possível aprender com ele. Mas ninguém quer (e é da natureza humana), o fracasso no presente, no futuro. O ponto aqui é achar o equilíbrio e não perder a capacidade de arriscar, de tentar o novo e, mesmo com todo o esforço para fazer o certo, conviver com o erro.
APOIO
“É preciso proteger as equipes por conta da fragilidade das novas ideias”. O presidente da Pixar comentou bastante sobre como a cultura interna de sua empresa, ao mesmo tempo em que testa e coloca sob pressão cada novo projeto, ao mesmo tempo faz isso com delicadeza, por conta da “fragilidade das novas ideias”. É muito fácil destruir o novo. Argumentos nesse sentido sempre serão abundantes. Mas, segundo Catmull, a mágica acontece quando o time fecha com um projeto e decide seguir em frente e encarar os desafios.
Catmull fechou sua palestra lembrando um de seus maiores colegas de trabalho: Steve Jobs. Ao falar sobre a importância de empoderar as equipes, de ajudar os profissionais a buscarem o autoconhecimento, ele parou um momento para lembrar Jobs. E disse que estava bastante desapontado pela forma como muitos vinham deturpando a imagem de seu amigo. Segundo Catmull, o Jobs que ajudou a Pixar a triunfar e revolucionou a tecnologia com a Apple era uma pessoa madura, aberta e próxima de seus colaboradores.
“Foi este Jobs, que mudou e aprendeu o valor da empatia, quem conseguiu finalmente materializar suas visões e criar o novo. Foi ele quem nos deu a lição que, sim, é possível mudar o futuro”.
Corta para 16 mil pessoas aplaudindo de pé aquele pequeno e frágil gênio que, sem qualquer apoio pirotécnico, nos lembrou a importância da emoção.
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